Há situações difíceis de explicar (e até, muitas vezes, de entender) e ultrapassar, pelo mal que provocam na vida familiar, profissional e social das pessoas. Na vida que, por ser longamente curta, às vezes termina antes de termos tempo de abraçar o companheiro, ou parceiro, do lado.
Por William Tonet
Os erros, as posições contundentes, as ideologias, a intolerância, quando desferidas sem justa causa, com o único propósito de provocar mal a outrem, causam feridas e danos inultrapassáveis, capazes de colocarem autor e ofendido em campos diametralmente opostos e sem uma visível ponte que permita o retorno, o reencontro.
Neste campo, pelado ou relvado, cada um, alicerçando as armas de arremesso em sua posse, coloca no mastro a Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, acreditando com esta acção, lavar a honra ferida e o sarar das feridas causadas pela infâmia, desonra, difamação ou calúnia pública.
Se a opção é certa ou errada, ninguém sabe, mas as mágoas da confrontação ultrapassam, seguramente, as fronteiras da individualidade, para envolver na contenda as famílias, os amigos e a sociedade. Para além de todos podermos terminar cegos e desdentados.
Muitas vezes ainda se acirram mais as desavenças, pois torcedores dos dois lados, ao invés de sugerirem o baixar do “punhal” atiçam para o seu afiar…
E nesta conturbada estrada, a alta velocidade, leva a cegueira, levando as partes ao cometimento, voluntário ou involuntário de novos “desastres”, alguns atingindo ou envolvendo os mais próximos, as pessoas que nos são mais queridas. Pessoas que riem, quando estamos contentes, e choram, quando estamos tristes, dando-nos o alento que o momento impõe.
Por tudo isso, hoje quero falar da capacidade de se ultrapassar as desavenças, até mesmo as mais duras e marcantes, como as que vivi e pensava inultrapassáveis no ano judicial de 2012 em plena sessão de julgamento do “Caso Quim Ribeiro”, ao ser confrontado com acusações atentatórias da minha imagem, bom nome e reputação social e profissional.
Uma estratégia visando lançar-me à sarjeta da indigência e da humilhação, contornando com fé e na fé, os obstáculos e espinhos colocados no meu caminho. Não duvidei nunca das minhas capacidades académicas e profissionais, mesmo em caminhos espinhosos. Daí não ter baixado a cabeça perante os homens e só me ter ajoelhado perante Deus.
O Direito é a praia de um cúmplice e eterno banho, não só para aplicar, cega e imparcialmente, a lei, mas, fundamentalmente, adoptar a Justiça.
É esta a bússola dos cultores do Direito, daí eu advogar que a violação de um princípio ser pior que a violação de uma lei, pois podem-se cometer erros irreparáveis na vida das pessoas. Infelizmente tenho, ao longo dos anos, carregado o peso de muitas injustiças, umas praticadas até por pessoas próximas, por estarem ligados à engenharia do regime, que atenta contra todos quantos ousem pensar por conta e risco pela própria cabeça.
Hoje, na graça de Deus, como cristão devoto, orgulho-me de ter contornado obstáculos, atravessado as “vigas da ponte do diálogo”, assimilado a cultura do perdão e da conciliação, na lógica de o mal não se pagar com o mal, principalmente, quando o “passado já não volta” e o arrastar de mágoas poder gerar ódio, cada vez mais ódio, com o risco de transitar de pais para filhos e, quiçá com procuração irrevogável, para os netos.
Por tudo isso, chega uma hora em que a luz divina ilumina o CAMINHO para olhar nos olhos, perspectivar o futuro, conciliar, abraçar, na eleição da humildade dos homens, ultrapassado o carreiro da discórdia, com o mútuo reconhecimento do mal causado, involuntário ou sob coacção, ao outro, no passado.
Foi com esta elevação que, na presença e patrocínio do Amigo comum, David Mendes, pondo uma pedra no passado, me reconciliei com o procurador-geral adjunto da República, Adão Adriano.
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